Souto MC é uma daquelas artistas que a gente sente antes de entender.
Paulistana, indígena Cariri, cria da Zona Leste, ela carrega no corpo uma força mansa e uma sensibilidade afiada. Souto é rapper, mas também é vento, é memória, é ferida e cura na mesma voz.
Conheci a Souto em 2016, e desde então ficou claro: ela não rima para ocupar espaço — ela rima para abrir caminho.
Ela é filha de Iansã, orixá dos ventos e das mudanças . Isso aparece no jeito que ela se move, na coragem de mexer no que dói, na forma como ela vira a própria vida do avesso quando sente que precisa.
Ao mesmo tempo, Souto carrega em si o povo Cariri, suas memórias, deslocamentos e cicatrizes. Essa origem não está num passado distante: está nas letras, nos rituais sonoros, nas dores de afastamento da ancestralidade e no desejo de reconexão.
A arte dela nasce desse território duplo:
da cidade que molda o corpo e da ancestralidade que molda o espírito.
É essa mistura
— quente, viva, às vezes turbulenta — que torna a Souto tão única.
O búfalo e a borboleta já estavam nela.
O búfalo pela força, pela firmeza que ela sustenta mesmo quando está cansada, pela presença que impõe respeito antes mesmo da primeira palavra.
A borboleta pela forma como ela se transforma sem parar — muda, renasce, se reinventa a cada música e a cada fase.
mas, acima disso, são símbolos da própria Souto:
peso e leveza convivendo sem brigar,
vento que empurra e asa que vira caminho.
O insight foi entender que isso não era apenas um logo, mas uma síntese gráfica da mulher, da artista e da divindade que caminham juntas.
A marca precisava respeitar a Souto — e não o contrário.
E foi justamente aí que surgiu meu maior insight durante o processo: o totem. Em muitas culturas indígenas, se acredita que cada pessoa tem um animal que a representa, protege e acompanha ao longo da vida.
Na cultura brasileira, a própria ideia da carranca — esculpida na proa dos barcos como símbolo de proteção — ecoa esse mesmo gesto: um rosto que guarda, que vigia, que afasta o mal.
Com a Souto, tudo apontava pra isso:
ela precisava de um símbolo que fosse mais do que uma identidade visual.
Precisava de um totem, algo que reunisse proteção, força e pertencimento.
A ilustração nasce desse lugar — búfalo e borboleta juntos, força e leveza, terra e vento, ancestralidade e movimento.
Desenhei com cuidado: traços que respiram, curvas de vento, uma presença firme, quase ritual.
Mais que um logo, é um amuleto.
Uma letra que lembra rascunho de caderno, anotação de estúdio às três da manhã, ou um nome rabiscado num muro antes de um show.
Cada letra nasce de um movimento contínuo, quase uma respiração acelerada, como quem escreve no calor da emoção.
É uma assinatura que afirma presença, que diz “estou aqui” sem pedir licença.
Conceito
Direção Criativa
Direção de Arte
Desenvolvimento de conceito, criação do símbolo, identidade visual e diretrizes de comunicação para a marca da rapper Souto MC.
Objetivo: criar um símbolo que traduzisse sua força e ancestralidade — um totem que une proteção, movimento e pertencimento em uma marca visual leve e potente.